domingo, 30 de outubro de 2011

Plano

Como que um gesto sem sombra,
Cabisbaixo, contava a calçada sem me enganar

Negrumes aquelas manchas pretas, que,
Assombravam a minha vista
O sol bem radioso não era suficientemente forte para,
Desmantelar aquela obscuridade
Era mais que uma eternidade

Lá fui, eu, com um passo leve, correndo
Escoei-me pelo pálido gelo entranhado pelo chão
Vasculhei o oxigénio, que, dissimulava a minha vida
Senti o breve aroma da água escura, tal e qual as manchas,
Sombrias e tenebrosas da calçada,
Fui remechendo

Mexi na água tíbia da mágoa
Perfurei com os dedos o sopro do sangue
A água imundou-se

Submergi sem pensar
Nunca mais saí
Tentei respirar, mas
As manchas continuavam a proliferar o plano
Plano esse,
Seco,negressímo, plano sem plano

Parecia o olhar viscoso, faminto,desolado
Em mais nada pensei ter esperado,
Naquele amanhã de ontem

Naquela rocha dura
A minha cabeça batia, era esmagada
Naquela areia escorregadia,
Uma coisa pairava,a Cobardia
Sem margem de ser, tardia


Debaixo da água, via-me
Continuava tudo escuro e gélido,
Via uma cara no fundo,
Oculta

Peguei-me direito, onde,passava,
Num gesto rápido, mas lento,
Corvos flutuavam, morcegos matavam,
Mais sangue negro era espalhado,
Ali,
Ao pé,
Não tiveram pena de mim

Por isso, segui,bati,
Novamente na rocha
Afiada numa completa curvatura
Espessa, sem mais desejo

Bombardeadas
Destroçadas
Incendiadas,eram,
As mágoas, afugadas no meu ser,
A pessoa, que sempre,Eu,
Quis conseguir ser !


Igor Silva, 2 de Junho de 2011

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