segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Puro


Naquele tempo, algo distante, não chovera. Digo isto porque me lembro de subir a colina seca, seca de não beber há muito.

Digo isto tudo porque a minha memória me deixa ainda as cartas escritas  no pensamento, ainda que, dúbio.

Lembro o prazer momentâneo de me sentar perante o alto horizonte paralelo à minha vista, dos insectos alegres que sossegadamente me iam trepando a camisa já transpirada de recordações.

A ânsia de poder alcançar o fim daquele intrigante horizonte, o desejo instintivo de acabar com a pergunta interior que me fazia transpirar mais, que me fazia borbulhas na barriga, que me criava uma felicidade mentirosa. Era eu ingénuo.

Era inofensiva a maneira como eu esperava um desfecho positivo da história. Eu ficava triste, sim. Triste de saber que não mais ia ouvir o sopro do sol batendo na terra de cristal.

Era agora a minha tristeza falsa. Eu era alegre. Eu estava feliz.

Eu só não sabia como iria reagir quando o sol já não me falasse, eu só não sabia que mais ia ver que não o horizonte de recordações já furado de melancolia.

Eu estou bem, o sol ?                   

P.S :Apenas para lembrar que nada temos por garantido, que nada fica nosso, que nada dura sempre. Com a vida aprendemos que o sempre e o nunca não passam de meras palavras inventadas pelo homem.

Devemos dar mais significado à palavra adeus, ou melhor, não é preciso que seja mencionada, o sol quando caiu não voltou mais, nós não somos todos iguais. Adeus.


Igor Silva                    

sábado, 10 de novembro de 2012

Dia depois de amanhã

A certas horas
vêem-se várias luas
salpicando o sol encoberto
entrelaçadas no ar,
O meu estado é um Deserto.
                                                            

Visivelmente castas felizes
por detrás da luz,
que eu não vejo
mas ser assim, um amanhã
Meu Desejo

mas no dia depois
do hoje
verei o escuro que me
bombeia,
verei raízes sem desabotoar

Igor Silva, 10-11-2012
 

domingo, 4 de novembro de 2012

Infinito de quem vive

De nada vale o nada
ambos sabemos,
de inércia força
que vale a pena

Seguir o rasto
É escutar quem fala
É gritar pelo coração
E encontrar

Sabes,
o isto tomou um todo,
um recheio, um corpo aberto
de Quem sabe,
tudo é certo

                                                    
Certo de quem sabe,
acatar.
salta para o inúmero
e respira o que vês

Estou a falar contigo,
não te despeças
sou eu,
busca-me
Sempre!



Igor Silva,05-11-2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Imaginar imaginando


Imaginar imaginando,

O que poderia ter sido eu, se imaginasse tal batimento supérfluo da água no cascar das árvores, se imaginasse o cheiro verdão das flores rebentando florescidas no cristalino sol da Primavera. O que poderia ter sido eu se, de vez em vez, ouvisse o lamentar dos velhos da aldeia, o rumo do alcatrão azul que ilumina o sentido crescente da força interior… O que seria eu se não fosse eu…que saudade me fica longa e breve e curta, tépido. Tépido de imaginar o proibido ser que não fora .

        Basta de imaginar imaginando o que passara por entre as varas liquidas de pedaços de terra unida e afastada . É tempo de respirar o frio quente sentido do tempo já tardio . É tempo de nadar pelo Destino, inovando qualidades próprias, descobrindo, navegando pela plenitude longínqua .

        Ressuscitar da rebelde pessoa escondida por detrás de trapézios alheios, impulsos forasteiros. Agora é o tempo .

        Tempo que vida demora imune a ti…



Igor Silva, 22-09-2012                                                             

Infundado


Que bom ter sonhos
Toda a gente tem
Eu não os tenho
 
Desdenho quem tem.
Compreendo o que é
Sei o que não é
                                                                     
Força e supremacia
Esperança e alegria
 
Vejo tapado e preenchido
Não os tenho,
Como hei-de saber?
Nem escolher sei
 
Procurar é uma opcção
Tê-los é como nada
 
Não me cobrem os olhos no fundo
Não escutam as minhas dádivas
Não encolhem as minhas dores
Não sei o que são.
 
 
Igor Silva, 25-06-2011